É como voltar a casa, não interessa quanto tempo foi o de ausência. É sempre como voltar a casa. Primeiro a dúvida se ainda teremos lugar, se ainda faremos falta, se ainda fará sentido e depois a certeza de que pertenceremos sempre àquele lugar e àquelas pessoas. Chego, sento-me, escuto e toco. Fico calada e aparentemente apática durante as duas horas que dura o ensaio, mas na realidade estou apenas a absorver por todos os poros possíveis tudo aquilo que no tempo de ausêcia me fez tanta falta. Os sons são sempre novos, apesar de familiares, as notas tão bonitas. E os violinos a cantar e depois a chorar e a cantar outra vez contam a história do nosso grupo, da nossa orquestra. E eu estou ali sentada, na igreja mais bonita, com as pessoas mais bonitas a tocar as músicas mais bonitas. É o fim da semana e é o melhor fim. É a calmaria e é um registo totalmente diferente do resto da minha semana. São espaços diferentes, um ar diferente que se respira e também uma zona diferente do cérebro aquela que ali se exercita. E oiço e tudo entra como que por osmose, as presenças, atentas, silenciosas, concentradas ou então as conversas, novas, iguais, que fazem sempre todo o sentido. As pessoas cresceram desde a última vez que as vi, mesmo as que sempre foram crescidas, mas continuam as mesmas na minha cabeça. As pequenas cada vez estão maiores, em tamanho e em talento e as que já eram grandes não param de crescer na significância que têm na minha vida, nos ensinamentos, na pedagogia intocável. Mas são as mesmas, sempre aquelas que fazem tudo fazer todo o sentido. Volto uma e outra e outra vez e sempre que volto parto com a certeza de ter ali a minha casa (ali, nas pessoas), sempre que queira voltar.
Música aqui:
Orquestra de Cordas do CREV para a Antena 2 em 2007, Concerto grosso, D-Dur, Nr. 4, op. 6: Adagio allegro - Adagio vivace allegro - AllegroSolistas:
1º Violino - Luís Rufo
2º Violino - Susana Nogueira
(Uma peça que gostei tanto de tocar que ainda hoje me dá comichão na alma só de ouvir esta gravação)